Dia das bruxas? Só se for com a Mortina
A menina-zumbi Mortina vive no Palacete Decrépito e é a protagonista da série que leva seu nome. Mas para entender os livros, é preciso ter certos atributos... Veja quais são
Antes de chegar às narrativas, dê-se o tempo de parar no sumário, onde um coelho aviador veloz pilota um avião feito de cenouras, puxando uma faixa a anunciar o título daquela página (abaixo).
E saiba: não se trata apenas de um livro ilustrado, mas de um livro ilustrado em linguagem de HQ: quadrinhos, tirinhas, balões, diálogos e imagens, muitas imagens dando movimento e evidenciando acontecimentos.
Nas HQs que se seguem, há gêmeos invisíveis e uma turma tentando escapar à chamada oral da professora; há gatos e suas manias explicados pelo olhar das crianças; há uma lesma-monstro, minhocas controladas por comandos, corrida de caracóis e os bastidores de suas vidas secretas.
Nesse universo, a realidade ganha as tintas e as possibilidades da imaginação infantil com um toque de autoironia do mundo adulto. Assim, por exemplo, há espaço para árvores filosofarem, tubarões serem irônicos, mães ganharem superpoderes assustadores aos olhos dos filhos -- e absolutamente engraçados aos olhos delas.
Nas páginas dessas HQs, o mundo adulto ora se confirma ora é desafiado pelo olhar investigador e instigante dos grandes curiosos do título. Tudo isso com um toque de nonsense e de irreverência.
Para ilustrar: numa das histórias, uma menina que brincava fazendo caretas sofre um "golpe de vento" e fica assim para sempre. Um bocado nonsense, não? Mas quem de nós nunca ouviu uma história-alerta similar da mãe, da tia, do avô?
Numa outra, todas as falas tradicionalmente ditas por nós, adultos, para incentivar as crianças a comer frutas ou para que elas não tenham medo de injeção ou de monstros, todas essas falas são desditas pelos fatos narrados pela história. Com um ápice hilário de arrancar gargalhadas de pequenos e grandes. Essa tira tem o curioso título de Mentiras que minha mãe me contou.
E quando as crianças assumem o ponto de vista da "realidade" dos adultos, sem fantasia alguma, as próprias crianças são - parece - desafiadas pela autora, a canadense premiadíssima Marie-Louise Gay, que dá um desfecho diferente e bem menos "realista" para suas personagens, como no conto que fecha o livro e mostra duas crianças debatendo sobre o que há na toca dos coelhos. Quando ambos decidem que não há nada além de terra, afinal, o que mais haveria?, Marie-Louise faz isso:
Desse modo, o ponto de vista das crianças e a fantasia o tempo todo a brincar com a realidade e com o que nós, adultos, dizemos que é "real" conduzem as narrativas, invertendo a lógica, causando estranhamento, fazendo pensar e divertindo. Lápis coloridos, aquarela e cores vibrantes da Marie-Louise Gay são características também dessa obra, que inova na linguagem, apresentando o universo da HQ para os pequenos -- grandes -- curiosos.
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Sim, há muitas dicas que podem ajudar a fazer a mediação de livros para bebês. Mas o principal é estar realmente presente - e conectado com a criança e com o livro