Dia das bruxas? Só se for com a Mortina
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A 67ª edição do Prêmio Jabuti 2025 premiou Bento vento tempo (Companhia das Letrinhas, 2024) como grande vencedor da categoria ilustração. Para Nelson Cruz, autor das imagens que se combinam ao texto de Stênio Gardel, o prêmio reforça a crença “numa ilustração literária, numa ideia visual, de levar esse teor para o leitor de livro ilustrado”, conta. O livro narra a história de um menino, Bento,que empreende uma jornada para ajudar o avô Cacá a recuperar memórias - e encontrar de novo a si mesmo.
O vô Cacá foi inspirado no poeta cearense Patativa do Açaré (1909-2002)
Nelson já é um veterano do Prêmio Jabuti, concedido anteriormente a ele outras nove vezes em diferentes categorias. Mas o prêmio deste ano tem um sabor especial: “Esse livro é muito forte para mim, porque as imagens me remetem a narrativas que estão presentes na minha formação de adolescente”. O livro se relaciona muito com as experiências do artista nos anos 1970, amparadas pela arte e as danças populares e a música do interior do Brasil. Ele conta também que tudo o que aparece no livro tem alguma ligação com o que os pais dele levavam para a casa dele de infância, como a pintura de retratos, do que eles gostavam de termos culturais e que ele próprio descobriu que também apreciava. Nelson se apaixonou pela cultura nordestina, especialmente por meio do poeta cearense Patativa do Açaré (1909-2002), um legendário cordelista com pouquíssimo estudo que se tornou conhecido por suas improvisações. O poeta foi a inspiração para Nelson criar o personagem do avô Cacá em Bento vento tempo.
No racional por trás da criação da narrativa visual, o artista destaca a figura da graúna, uma ave mítica, tão simbólica para os nordestinos, com sua plumagem preta e canto característico. “A graúna é cantada muito nas feiras, no cordel. Me marcou muito, muito mesmo, a adaptação que o cartunista Henfil (1944-1980) da imagem da graúna fez para o cartoon dele. Acho que é um dos desenhos mais sintetizados e mais expressivos que alguém já conseguiu criar”, comenta Nelson. A personagem criada por Henfil protagonizava tirinhas que eram publicadas no jornal O Pasquim, chamando atenção para a realidade do povo nordestino.
Em Bento vento tempo, a presença da graúna cria um simbolismo importante. “Durante todo o tempo, os personagens caminham sobre uma faixa de textura que, metaforicamente, eu trato ali ao invés de terra, pedra, raízes, mas que é o corpo da graúna. Quando o avô parte dessa vida, a graúna surge como o grande pássaro que vai levá-lo para a transcendência” explica o autor. O avô passa por toda essa jornada e todos os personagens também, conectados de modo telúrico, por esse corpo-chão da graúna.
O corpo da graúna é o chão que conecta os personagens em Bento vento tempo
Vale destacar ainda que o texto narrado em cordel é a estreia de Stênio Gardel, autor que se consagrou com o romance A palavra que resta (Companhia das Letras, 2021), para o público infantil. Sobre trabalhar com um autor conhecido pelos adultos, Nelson conta que é exatamente esse o tipo de texto que busca. “Eu quero levar obras para o público jovem, reconhecendo que ele é um consumidor de imagem, é um buscador apaixonado pela arte, pelas artes visuais, principalmente”.
(Texto Naíma Saleh com colaboração de Cristiane Rogerio)
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