O segredo de ler para bebês: criar um momento de afeto e adequar expectativas
Sim, há muitas dicas que podem ajudar a fazer a mediação de livros para bebês. Mas o principal é estar realmente presente - e conectado com a criança e com o livro
Ler para bebês é mais do que importante para o desenvolvimento: é uma oportunidade de fortalecer o afeto e o vínculo com pais e cuidadores. E vai muito além: as histórias que ouvimos desde criança seguem dentro de nós. E os livros que vão chegando em diferentes fases da vida, vão aos poucos compondo a nossa biblioteca - uma biblioteca que permanece em nós, muito além da duração do livro como objeto. Quando um bebê está para nascer, cabe aos pais, cuidadores e familiares, começar a construção desse acervo, escolhendo as primeiras histórias - e os primeiros livros - que vão fazer parte da vida desse sujeito.
Mas como escolher livros para alguém que você ainda não conhece tão bem? Um alguém que ainda nem sabe bem do que gosta? E que, aliás, não parece nem saber a diferença entre um livro e qualquer outro objeto potencialmente mastigável? Ou será que ele sabe mais do que consegue nos mostrar?
Boa viagem, bebê! (Companhia das Letrinhas, 2025), de Beatrice Alemagna
Sim, muita gente não sabe nem por onde começar a escolher livros para bebês. E, na verdade, não há uma única resposta, um manual de instruções para seleção de obras que vão encantar bebês de todas as idades. Por isso, se você achou que nesta matéria ia encontrar uma espécie de check-list, do tipo: escolha um livro para aprender a contar, um livro que ensine as cores, um livro de poemas… esqueça. É verdade que, logo abaixo, reunimos vários títulos para bebês organizados em algumas categorias para que você possa conhecer opções. Mas a ideia aqui é muito mais ajudar pais, professores e cuidadores a pensar como encontrar obras que se relacionem com o bebê e com você também, para que a mediação de leitura aconteça de forma realmente significativa. “Digo sempre às mães e pais que leiam o que os faz se emocionarem”, aconselha Monica Correia Batista, pedagoga, doutora em Educação pela Universidade Autônoma de Barcelona, Espanha, e professora associada da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde faz parte do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Infâncias e Educação Infantil da Faculdade de Educação.
Ela é idealizadora da Bebeteca, um programa de extensão da UFMG e também um espaço de leitura e livros especializado na primeira infância, ou seja, o período que se estende de zero a 6 anos incompletos. O termo Bebeteza nasceu na França, já com um certo teor de provocação sobre a necessidade de existir uma biblioteca formal antes da alfabetização, voltada para essa faixa etária específica. “A Bebeteca não é uma biblioteca infantil, que geralmente tem uma preocupação maior com o sujeito que já está em processo de alfabetização formal. Bibliotecários, pedagogos costumam esquecer que o bebê já tem direito à literatura e que é um sujeito ávido”, explica .
Ler para os bebês é algo muito na perspectiva lírica, poética do humano - o mediador precisa se emocionar para fazer daquilo um encontro poético entre sujeitos”, Monica Batista Correia
É pela veracidade da conexão que se pode estabelecer entre cuidador e bebê na hora da leitura, que é preciso que o adulto esteja realmente envolvido com o livro - seja pela história, pela cadência das palavras, pelas memórias que desperta. 
LEIA MAIS: O segredo de ler para bebês: criar um momento de afeto e adequar expectativas
Para Monica, a construção de uma biblioteca para o bebê “é um ato muito vincular, muito mais do que  uma ideia utilitarista. É mais do que escolher um livro para que o bebê amplie o vocabulário ou para que se alfabetize rapidamente”, explica. Ainda assim, ela explica que aquilo que se chama de livros de primeiros conceitos ou de conceitos iniciais, que são aqueles que apresentam o mundo ao bebê, falando das cores, dos números, da formas, são importantes, sim, de fazerem parte das experiências de leitura do bebê.
“Se uma das grandes tarefas do sujeito é nomear o mundo, construindo a nomeação para poder se apropriar do mundo, e pensando que a linguagem nos constitui, bebê trabalha pela perspectiva de se tornar um sujeito por meio da linguagem”, explica. Em outras palavras, é a capacidade de nomear o que está no mundo que ajuda o bebê a se apropriar dele e, ao mesmo tempo, a se tornar sujeito através do domínio da linguagem. E os bebês costumam gostar muito mesmo desse tipo de livro - apontando, procurando elementos, repetindo os nomes apresentados. E para o adulto, é uma mediação que pode ser feita sem tanto pragmatismo. Além disso, há livros e livros de conceitos iniciais. E muitos deles, que primam pela poética, pela qualidade das imagens, por construir um contexto que conecte os conceitos apresentados e, por isso, também se tornam experiências estéticas como a literatura deve ser.
As crianças crescem carregando dentro de si as histórias que escutam desde muito cedo - por isso, a qualidade das obras é importante, tanto do ponto de vista da qualidade literária do texto quanto da experiência estética.” Mônica Baptista Correa
Com imagens feitas a partir de peças tridimensionais, com bonecos e cenários que foram fotografados, este livro retrata a busca de um menino e sua avó. Quando os dois saem para passear, a avó vai perguntando ao neto o que ele gostaria e as frases que não se completam ganham novos sentidos no jogo com as imagens. Adivinha só o que é que o menino deseja no fim das contas…
Em um texto cheio de ritmos e paralelos, a relação de um pai castor e seu filhinho vai sendo narrada nas dores e delícias de uma vida compartilhada. Com muito humor, o afeto e cuidado, a narrativa mostra o que todo pai e mãe sente: os filhos podem crescer, mas algo há de permanecer no jeitinho de ser sempre nosso pequenininhos.

O bebê está com a sua malinha pronta para fazer uma longa viagem… Para a terra dos sonhos! Quando a hora de dormir é retratada de forma poética, a rotina ganha mais graça em cada pequeno detalhe - como a naninha que não pode ficar para trás!

São nove livros cartonados do tamanho perfeito para pequenas mãozinhas. Cada um mostra um recorte do que pode fazer parte da vida - e da rotina - dos bebês. Manhã, tarde, noite, família, brinquedos, são alguns dos temas-título de cada uma das mini-obras. A cada página, um novo conceito, um novo nome. 
Bibo é um coelho pequenino que adora descobrir o mundo - e que não dispensa uma boa sonequinha. Em cada um dos quatro volumes, ele vive uma experiência diferente, marcada pelas descobertas e pelo ritmo de quem mal acabou de chegar. Em Bibo na escola (Brinque-Book, 2023), ele vive um dia comum junto dos colegas, entre a hora do lanche, as brincadeiras e as disputas típicas dessa fase. Em Bibo no sítio (Brinque-Book, 2023), o coelhinho visita os avós e descobre pequenos prazeres da vida no campo. Já em Bibo na praia (Brinque-Book, 2024), ele curte o mar, a areia e o sol - e nem a chuva consegue estragar o passeio! Por fim, em Bibo no mercado (Brinque-Book, 2024), tudo parece atrair a atenção do coelhinho na hora de encher o carrinho de compras - que cheirinho bom de pão!

A partir da perspectiva do bebê, testemunhamos uma rotina cheia de cuidado e de afeto. Com brincadeira, com passeio na pracinha, colo e com carinho. O texto, potente, com as palavras precisamente escolhidas e cadenciadas, traz ainda mais envolvimento com a narrativa.
O que acontece quando bebês humanos são apresentados a outras espécies e seus bebês? Eles podem crescer já com orgulho e urgência de proteger nossa fauna e nossa flora. Dentro da Coleção Brasileirinhos, grande sucesso dupla Lalau e Laurabeatriz, este é o segundo livro.
As três obras da Coleção Canoa foram especialmente pensadas para a primeiríssima infâncias, apresentando os conceitos que as intitulam de forma sempre contextualizada, e ainda mostrando, por meio de diferentes corpos, cores e papéis de gênero, a diversidade do mundo.
De terno, gravata e cartola, o pequeno mágico começa seu show. Assim que toca a cartola, um coelho sai pulando! Toca outra  e… aparece o segundo! Logo já somam três, depois, quatro, cinco… E a mágica continua até o pequeno ilusionista se dar conta do tamanho da confusão que ele mesmo criou. Aí, não tem jeito: começa a contagem regressiva dos coelhos de volta na cartola. A mágica avança em contagem crescente até que a coisa sai do controle. Que confusão arrumou o pequeno mágico! Uma obra póstuma de um dos maiores autores da literatura infantil mundial que traz um toque extra de magia para os livros de contar.
É um desses livros para brincar com os sona, que convidam o mediador a explorar as possibilidades de sua própria voz e o bebê, a imitá-lo. Cada vez que os filhotes de diferentes bichos aparecem, dá vontade de piar/cantar/rugir junto!
O Sapo Bocarrão, personagem que se tornou clássico na literatura infantil, virou papai! E quando a Sapinha Bocarrão nasceu, ela resolveu sair por aí perguntando os bichos qual era o maior medo deles. A cada página, a surpresa com o pop-up que se arma, trazendo tridimensionalidade à narrativa - e os bebês adoram!

Quem acha que livros para bebês precisam ter cores chapadas e formas simples não conhece ainda o trabalho da Aline Abreu. Aqui, os olhinhos precisam estar atentos para participar das buscas. Qual elefante comeu o bolo? Cadê a filha da formiga amarela? Entre ilustrações riquíssimas em detalhes, 
              Sim, há muitas dicas que podem ajudar a fazer a mediação de livros para bebês. Mas o principal é estar realmente presente - e conectado com a criança e com o livro
              Roberta Asse fala sobre o crescimento da oferta de livros para bebês nos últimos anos e o que isso representa para a literatura infantil
              A menina-zumbi Mortina vive no Palacete Decrépito e é a protagonista da série que leva seu nome. Mas para entender os livros, é preciso ter certos atributos... Veja quais são