
Diorama: entre a arte e a ciência, a chance de ilustrar histórias
Cenários tridimensionais, realistas ou não, dioramas são um recurso para criar ilustrações com múltiplas camadas, sensação de profundidade e exploração de diferentes materiais
A Coreia do Sul está na onda - e não é de hoje. A Hallyu, nome do fenômeno que se caracteriza pela expansão da cultura sul-coreana desde a década de 1990, definitivamente veio para ficar. Na gastronomia, com a popularização de pratos como o kimchi, preparado a partir de vegetais fermentados; na música, com a febre do K-pop; na TV, com os doramas provocando lágrimas e suspiros... Sim, a Coreia do Sul parece ter se espalhado por todos os cantos. E a literatura infantil não é exceção.
Alguns nomes como Suzy Lee, Haena Baek e Ryu Jae-soo se tornaram verdadeiros fenômenos, descortinando novas possibilidades de tecer narrativas com sensibilidade e técnicas visuais primorosas. Abaixo, contamos um pouco mais sobre esses autores e apresentamos suas obras:
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Ganhadora do prêmio ALMA (Astrid Lindgren Memorial Award) em 2020, estudou tecnologia educacional na Universidade das Mulheres de Ewha e animação no Instituto de Artes da Califórnia. Antes de se tornar autora, trabalhou com publicidade e projetos audiovisuais para crianças. Mas só começou a criar livros depois do nascimento de sua filha. Suas ilustrações são versáteis, utilizando múltiplos materiais e técnicas - que vão do desenho em A mamãe do pintinho para a tridimensionalidade dos dioramas em Picolé de lua. A intimidade com o audiovisual se reflete na criação de iluminações assombrosas e nas sequências narrativas construídas visualmente.
Dong é um menino que encontra por acaso um saquinho de balas - balas um tanto peculiares, vale dizer. Para a surpresa do garoto, a cada doce que ele degusta, uma voz se revela - ora do seu sofá, ora de seu cachorro, ora do próprio pai. Assim, o menino sem querer é capaz de ouvir e por vezes dialogar com o tudo o que não é dito - mas que sempre esteve guardado no coração. A adaptação do livro rendeu um curta que concorreu ao Oscar em 2025.
Se a chuva é sinônimo de diversão para os pequenos, para os pais é dor de cabeça. O trânsito trava. Trajetos curtos se transformam em longos… que pesadelo! E na família de gatos desta história não é diferente. Ainda bem que a mãe gata tem um truque na manga: uma receita diferente, que promete trazer mais leveza para um dia que começou nublado…
A gata Inhá não era exatamente um poço de ternura e simpatia - pelo contrário. “Gorda, egoísta e faminta”, ela se importava apenas consigo mesma e com saciar seu apetite, incomodando as galinhas atrás de seus ovos. Isso, até que, de forma inesperada, a gata se vê “dando à luz” um pintinho. No papel forçado de mãe, ela se pega rendida a um sentimento que até então desconhecia: o amor.
Nem com todos os ventiladores do prédio ligados os moradores conseguiam encontrar algum refresco. O calor estava in-su-por-tá-vel. Tanto, que até a lua derreteu… Ainda bem que a síndica, dona Loba. conseguiu recolher os pingos de lua e colocá-los em uma forminha de gelo. E a lua de repente foi transformada em picolé! Com o doce, os moradores, finalmente encontraram algum refresco. Mas tem gente que não gostou muito…
A autora e artista mundialmente aclamada se formou em Artes plásticas na Universidade Nacional de Soul e fez mestrado em Artes do livro pela Camberwell College of Arts, em Londres. Entre diversas honrarias recebidas, Lee ganhou o Hans Christian Andersen de 2022, aclamada sobretudo pelos seus livros-imagem. A autora é reconhecida por seu poder de criar narrativas poéticas que exploram o movimento, a natureza e o poder da fantasia com traços concisos, quase minimalistas. Suas ilustrações, que exploram o potencial de diferentes materiais e técnicas, já foram transformadas em exposições de arte.
Uma menina passeia pela praia com sua mãe. Se aproxima do mar, um pouco receosa, um pouco tímida… Mas ao perceber que as ondas não a atingem, vai ganhando coragem. Entre ela e a água, há uma barreira que não deixa a onda alcançá-la: uma barreira formada pelo próprio livro. Onda é uma das três obras chamadas pela autora de Trilogia da margem - as outras duas são Sombra e Espelho, descritas logo abaixo. Transitando entre a poética das imagens que exploram um contraste entre a força da natureza e suas delicadezas, a autora brinca com a materialidade do livro para dar contorno à história.
No sótão, a menina brinca com a luz da lâmpada, projetando nas sombras seu próprio mundo de fantasia. Ela pula, dança, enfrenta perigos e se diverte muito enquanto vê os objetos que a rodeiam serem transformados na projeção de suas silhuetas.
A menina brinca em frente ao espelho. Faz caras e bocas, levanta os braços, dá piruetas - mas a conexão entre ela e seu reflexo vai aos poucos começando a se estreitar, até que eles se tornam um. Com poesia, uma obra que faz refletir sobre os limites entre a realidade e a imaginação.
Riscando o gelo, a patinadora vai desenhando seus movimentos. Cada curva, cada giro, cada salto, cada mudança de direção vai se registrando na superfície, até que uma queda conduz a narrativa para um desfecho inesperado.
Baseado em uma experiência pessoal da autora, este livro sensível narra o encontro de um cão e uma família. Rio, é um cão que procura um lar e é resgatado por uma família - para logo se tornar parte dela. Aos poucos, o cão se torna companheiro de brincadeiras e descobre novas experiências, que são retratadas com a sensibilidade incomparável da autora.
Sinestesia. Essa talvez seja a melhor palavra para descrever o que este livro provoca. As ilustrações que traduzem a atmosfera da estação mais vibrante do ano são inspiradas na sinfonia As quatro estações, de Vivaldi, e estão divididas em três atos. Entre banhos de mangueira, balões coloridos e pé na grama, somos transportados para uma explosão de frescor e alegria. Na edição caprichada, o QR direciona o leitor para a canção Verão, de Vivaldi.
É nas asas do pássaro que a menina encontra consolo para a sua tristeza. Depois de presenciar uma briga entre seus pais, ela está chateada e briga para segurar o choro. Logo, um pássaro preto se aproxima, e magicamente se torna imenso! Pega a menina com o bico e, voando juntos, ela percebe como tudo o que a afligia ganha uma nova dimensão…
Antes de se tornar autor, o coreano trabalhou como professor de artes para crianças. Formado em artes plásticas na Universidade Hongik, em Seul, a vivência na escola o fez despertar para a infância.
Neste livro-imagem, eleito pelo jornal New York Times como um dos melhores livros ilustrados, acompanhamos o trajeto de um guarda-chuva amarelo, que no começo circula solitário em meio à precipitação. Mas depois, vai encontrando vários outros guarda-chuvas, de muitas cores, pelo caminho - que leva até a escola. O livro não tem palavras, mas tem trilha sonora: uma playlist do artista Shin Dong-il acompanha a obra.
(Texto: NaímaSaleh)
Cenários tridimensionais, realistas ou não, dioramas são um recurso para criar ilustrações com múltiplas camadas, sensação de profundidade e exploração de diferentes materiais
A história de Heena Baek, transformada em curta, concorre à estatueta dourada. Conheça mais sobre a obra
A premiada autora sul-coreana, uma das principais artistas contemporâneas do livro ilustrado, falou ao Blog sobre a história de Rio, a cachorrinha de sua família que inspirou o livro