
Entrevista com Márcia Kambeba: embale na ancestralidade desta maqueira
A autora amazonense Márcia Kambeba e a paraense Michelle Cunha nos convidam a deitarmos nesta “rede” e nos acolhermos nas memórias e saberes repassados pelas histórias
15 de agosto é o Dia Internacional dos Povos Indígenas, uma data estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU), coincidindo com o dia da primeira reunião de trabalho sobre a situação dos povos indígenas realizada em 1982. A ideia da data é sensibilizar o mundo sobre a situação e os direitos dos povos originários e também sobre a importância de suas culturas.
E é claro que a literatura pode ser um caminho para se aproximar de todo esse universo, apresentando os costumes, as crenças, as formas de ver o mundo e de estabelecer conexões entre pessoas e com a natureza que fazem parte das muitas formas de ser indígena. Para marcar a data, selecionamos livros que falam das histórias, dos fenômenos, das trocas e ilustram a pluralidade de experiências dos povos originários. Livros que trazem formas de narrativas outras, que muitas vezes desafiam a lógica à qual estamos acostumados. Confira:
Biguru é uma menina curiosa, que tem um laço profundo com sua avó, Suzana. A matriarca deixa a menina maravilhada por revelar tanta potência escondida em um corpo tão miúdo e acaba se tornando uma de suas lembranças mais marcantes da infância. O livro registra essa volta ao passado de Biguru, marcado por gosto de cuscuz com leite de coco, som de canto de cigarra e mãos molhadas de barro.
Uma história sobre contar histórias. A maqueira que dá nome ao livro é um tipo de rede, que na aldeia Tuyuka não é apenas lugar de sono e descanso: é fonte de novas ideias. Nesta história, a jovem Emoa era grande narradora de sua tribo, até se tornar vítima fatal de uma epidemia. Em seu túmulo, começa a crescer uma palmeira chamada tucum. E a mãe de Emoa traça com a fibra da planta a maqueira que dá contornos a toda essa narrativa.
Neste poema-manifesto, publicado como parte da Coleção Canoa, que oferece literatura de qualidade a preços acessíveis, a narradora constrói uma grande celebração de sua origem. Somos envolvidos pelo texto, que amplia nosso entendimento sobre o que ser indígena representa, na relação com a natureza, com o grupo, com o planeta.
O encontro entre as águas do rio com as águas do mar, que dá nome ao livro, faz parte da vivência das populações ribeirinhas, deixando todo mundo "mundiado", ou seja, assombrado, arrebatado pela potência do fenômeno. E, página a página, observamos todo o entorno que cerca esse evento: há açaizais e andirobas; há tucanos e jiboias. E há também as criaturas encantam que orquestram esse mistério, como o boto e a Mãe D'Água.
Nesta antologia organizada pelo autor, ilustrador e pesquisador, Maurício Negro, e lindamente ilustrada também por ele, estão reunidas histórias de 12 autoras indígenas sobre os mais diversos temas. Há relatos de sonhos, histórias de vivências em família, contos sobre amizade, tudo com um pé na realidade e outro na ficção. Para dar suporte aos leitores, há um glossário e também biografias curtas que apresentam as autoras.
Vestimentas, jogos, alimentos. São os elementos próprios da cultura que guiam uma viagem entre quatro povos indígenas diferentes - os Yanomami, os Krahô, os Kuikuro e os Guarani Mbya. Todos vivem no Brasil, mas cada um tem uma identidade e formas próprias de habitar a floresta. Com muitas curiosidades, é um desses livros para prestar a atenção e encontrar nos detalhes semelhanças e diferenças entre as tribos.
Quando o próprio criador decide descer à Terra para ver de perto suas criaturas, ele assume a forma de um tamanduá. E o povo da aldeia fica feliz com a visita do bicho… por pretenderem transformá-lo em jantar! A exceção são dois meninos sabidos, Roti e Cati, que rapidamente percebem de quem se trata e protegem o próprio criador do apetite de suas criaturas.
A autora amazonense Márcia Kambeba e a paraense Michelle Cunha nos convidam a deitarmos nesta “rede” e nos acolhermos nas memórias e saberes repassados pelas histórias
Histórias indígenas, africanas, asiáticas...há cada vez mais espaço para formatos e lógicas que não se adequam às narrativas eurocênticas
A autora fala sobre o existir entre a cultura ocidental e os povos originários, na infância entre indígenas e a na importância de fugir de ideias pré-concebidas