
É 'Bateção': canoa, memória e rio na obra de Josias Marinho
O autor fala sobre seu novo livro, inspirado em memórias de sua mãe, que evoca os sentidos da vida que flui - e frui - no rio Guaporé, em Rondônia
No dia 20 de maio, grandes nomes se reuniram para pensar o papel de autores negros na literatura no evento Imagens e Narrativas na Literatura Negra para as Infâncias, organizado pelo Companhia na Educação. A artista multiplataformas Paty Wolff, autora de Azul Haiti (Companhia das Letrinhas, 2025), o pesquisador do livro para a infância Josias Marinho, autor de Bateção (Pequena Zahar, 2025) e Marcelo D’Salete, autor e quadrinista de Luanda no terreiro (Companhia das Letrinhas, 2025) generosamente dividiram os bastidores de seus processos criativos das obras refletindo sobre identidade, representatividade e as múltiplas experiências da negritude no Brasil.
Ilustração de Bateção (Pequena Zahar, 2025), de Josias Marinho
Com a mediação da pedagoga e educadora Ananda Luz, os autores conversaram sobre as perspectivas, os territórios, os sotaques que marcam a presença negra na literatura.Você confere o papo na íntegra abaixo e uma seleção de frases com alguns dos melhores momentos do evento:
A gente pode falar nos sentidos e no que é sentido: ler com o tato, com o paladar, com o olfato, isso tudo existindo em roda de leitura onde o livro vai ser partilhado. E os sentimentos também. Porque mediação de leitura é relação, por isso precisa de envolvimento.” Ananda Luz
Para pensar o livro, me vejo muito nesse lugar do artista. Ás vezes, fico pensando em diálogos até com o designer gráfico (...). Às vezes, minha cabeça vai para um lugar de experimentação, que vai além dos limites do livro impresso." Josias Marinho
O livro infantil tem uma abertura de possibilidades que eu gosto de apreciar. É sempre uma experiência incrível você ver as soluções que os artistas têm ao criar um livro infantil. Creio que talvez a literatura infantil seja uma das áreas mais ricas em termos de pensar a imagem para contar uma história para os leitores mais novos - e para os mais velhos também”. Marcelo D’Salete
Eu adoro pensar que os meus livros também serão lidos por adultos - e como eles vão se sentir. Porque eu na minha infância eu não tive esse contato com os livros, então que estou fazendo essa acalanto na infância que eu não tive. Especialmente essas narrativas negras, que retratam infâncias que nos atravessam , de crianças na periferia, às margens, crianças em outros contextos, no Centro-Oeste, no Norte. crianças ribeirinhas, quilombolas. Livros que trazem outras possibilidades de ser e estar no mundo”. Paty Wolff
É maravilhoso ter a percepção da leitura a partir dos olhos das crianças. Porque às vezes elas revelam nuances, detalhes, que nós como adultos não percebemos. às vezes há algo secundário na narrativa que para a criança acaba virando o principal”. Marcelo D’Salete
A experiência religiosa afro-brasileira de matriz africana, como o candomblé, é algo muito específico do Brasil. O terreiro, para além das lendas, dos orixás, é um espaço educativo, de formação. É um lugar que as crianças frequentam. Eu já tive aulas incríveis conversando com crianças pequenas [...] Mas a gente sabe que algumas palavras, alguns termos - o que é uma ialorixá, um baborixá - não chegam a todas as pessoas. [...] O glossário [em Luanda no terreiro] é um convite para entender um pouco mais.” Marcelo D’Salete
O livro ilustrado tem mais de uma autoria: tem a autoria do texto e a autoria das imagens. [...] É um modo de pensar. Mas em alguns livros utilizados nas escolas como literatura afro-brasileira ou afro-negra, às vezes a ilustradora ou ilustraodr não é negro - como lidar com isso? A partir do momento que a gente pensa o livro todo como objeto, nos damos conta de várias nuances, de várias portas e janelas de entrada para esse objeto." Josias Marinho
Bateção me parece um livro circular. Me dá a impressão da circularidade, que também é um valor afrobrasileiro de voltar para o começo. Eu fico pensando sobre esse ciclo da vida. ” Ananda Luz
Por muito tempo, os quilombos não estavam presentes em histórias em quadrinhos, muito menos literatura infantil. Como trazer um pouco dessa realidade para falar com os menores? Especialmente pensando que temos crianças quilombolas em escolas fora o seu local de origem (...) É importantíssimo que a gente traga essas experiências, tanto dos quilombolos quanto dos terreiros, para a literatura infantil, que as pessoas entendam esses espaços a partir d eum linguagem lúdica. Mas é importante para que os jovens quilombolas e os jovens dessas religiões se reconheçam. A gente precisa se ver ali, não apenas para estar representado, mas para ser essa faísca para novos diálogos sobre realidade complexas. " Marcelo D'Salete
O autor fala sobre seu novo livro, inspirado em memórias de sua mãe, que evoca os sentidos da vida que flui - e frui - no rio Guaporé, em Rondônia
A autora fala sobre como se tornou artista antes de escrever e de sua própria história familiar, refletindo sobre memória, apagamento e resistência
Confira os destaques e a programação infantil dos dois eventos