
Rita Carelli e o 'reflorestamento dos imaginários' na ponte entre dois mundos
A autora fala sobre o existir entre a cultura ocidental e os povos originários, na infância entre indígenas e a na importância de fugir de ideias pré-concebidas
A lista de 30 melhores livros do ano da Revista Crescer chega à sua 20ª edição em 2025 - trazendo os títulos de 2024 mais indicados por um júri de 69 especialistas, entre livreiros, educadores, mediadores de leitura e bibliotecários. E o Grupo Companhia das Letras marcou presença: 11 livros de nosso catálogo estão na lista, de três de nossos selos infantis: Companhia das Letrinhas, Pequena Zahar e Brinque-Book.
Para a publisher Júlia Schwarcz, o anúncio dos selecionados trouxe alegria a todos os departamentos da editora. "A gente trabalha muito e ama o que faz, mas o prêmio é para as autores e os autoras, sem dúvida!". Ela destaca a representatividade que a seleção deste ano alcançou, ao colocar na mesma lista obras mais tradicionais com personagens já conhecidos - e muito amados - como elefante Gildo, que protagoniza O piquenique do Gildo (Brinque-Book, 2025) junto com histórias novas. Entre os temas predominantes, as relações afetivas, principalmente as que são vividas em família, estão no cerne de obras como Terra (Companhia das Letrinhas, 2025), O quintal das Irmãs (Pequena Zahar, 2024), Mãos (Companhia das Letrinhas, 2025), Uns e Outros (Companhia das Letrinhas, 2024) e O lenço de cetim da mamãe (Companhia das Letrinhas, 2024), de Chimamanda Ngozi Adichie. Na esteira das relações familiares, a ancestralidade, os costumes, a ideia de legado - e do que permanece para a além das famílias - também marca a seleção das obras. Kuján e os meninos sabidos (Companhia das Letrinhas, 2025) é um exemplo ilustrativo. O olhar para a infância e para os deslumbramentos que deixamos para trás também é marcante. Seja na imaginação capaz de criar o fantástico mesmo no ordinário, em Papai, ó! (Pequena Zahar, 2024), seja nas descobertas de si e do outro, como o primeiro amor narrado em O dia em que virei um pássaro (Companhia das Letrinhas, 2024).
A criança é retratada quase como uma guardiã do tempo, que resiste à superficialidade, à pressa, à falta de tempo e que nos lembra o que é mesmo importante", Júlia Schwarcz
Confira nossos livros selecionados:
A brincadeira é: cabo de guerra. De cada lado da corda um personagem diferente (ou melhor, uma criança vestida como personagem) vai dando as caras - Chapeuzinho Vermelho, Gato de Botas e Rapunzel são apenas alguns dos que se unem ao jogo. Puxa de um lado, puxa do outro… o que acontece? A história se estica, oras! E o resultado é um livro-brincadeira sanfonado, com quase três metros de comprimento, recheado de rimas e adivinhas cheias de graça.
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Tuiuiús, as aves brancas de cabeça preta e colar vermelho no pescoço, são símbolos do Pantanal, mas marcam presença em toda a América Latina. O autor colombiano escolheu esses animais para construir uma poderosa metáfora sobre as múltiplas possibilidades de ser e conviver, em uma narrativa poética que fala sobre liberdade e diferenças mesmo dentro de uma mesma espécie. Há quem prefira estar sempre junto, há os que preferem ficar sozinhos; há quem fique perto da família, outros que colecionam amizades incontáveis. Não há certo nem errado: tudo é possibilidade.
O afeto e a cumplicidade entre as duas irmãs ganham raízes em um quintal mágico, território de brincadeiras, imaginação e lembranças. A infância compartilhada evoca símbolos presentes na memória coletiva: a espada de São Jorge, a máquina de costura… O fio que sai dela e que corta o livro desde a primeira página acompanha a narrativa, assinada pela grande autora e educadora Waldete Tristão, que revela no livro um pouco de suas próprias memórias.
Um urso caminhava tranquilo com uma melancia pela floresta, quando uma anta surge e propõe trocar a suculenta fruta por dois melões. O urso topa. Mas logo é parado pelo macaco, que quer trocar os melões por três cocos… E o urso diz sim outra vez. E assim, o urso vai topando uma nova troca a cada encontro… mas onde será que essa matemática vai parar? Uma obra rimada em que as somas e trocas não fazem muito sentido, mas a diversão é garantida!
Quando a mãe precisa sair para trabalhar, a menina Chino sente aquela angústia tão própria das crianças pequenas - afinal, e se ela não voltar? Para amenizar a falta, a mãe deixa seu lenço com a filha. O mesmo lenço com o qual ela cuida de seus cabelos crespos. O mesmo lenço cuja estampa identifica suas origens e celebra a beleza da sua identidade. O lenço que ganha ainda mais significado ao representar o afeto transmitido de mãe para filha e que, na ausência, se transforma na conexão entre elas. O primeiro livro para crianças da celebrada escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, usa o lenço como símbolo da relação mãe e filha e bandeira para celebrar sua própria ancestralidade.
Gildo convida sua turma para aproveitar o dia de sol e fazer um piquenique - com direito a piscina e tudo! Página a página, cada amigo prepara o que vai levar para comer: a girafa Catarina faz um sanduíche verde-verdíssimo; o macaco João prepara panquecas de banana; e o pássaro Paulo passa na feira para pegar uma melancia. As receitas colocadas em prática pelos amigos do Gildo são compartilhadas com os leitores, que podem tentar fazer (quase) todas em casa. Quando o piquenique começa, vai tudo muito bem até que… a comida de-sa-pa-re-ce! Como assim? Socorro!
Até os objetos e paisagens mais ordinários podem fazer a imaginação das crianças voar longe… A cabeça do menino fervilha enquanto ele circula pela cidade com o pai. Mas enquanto o pequeno habita um mundo encantado, o pai não tira os olhos do celular. Não importa o quanto o garoto insista para que ele tente ver o que ele está vendo. Com um misto de angústia e esperança, o livro nos lembra que tudo pode ser maravilhoso quando há olhos de ver - e voltamos de novo para a criança que um dia fomos.
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Há muitas formas de demonstrar amor e nem todas precisam de palavras. Entre uma avó e sua neta, o cuidado e o afeto se imprimem no “não dito”. No amor que se estende para além do cuidado entre elas e irradia para o entorno, na lida com a terra, no plantar e no colher. Entre palavras e imagens, se desenha um afeto ancestral, nutrido por gerações que estreitam os laços entre si e com o território que habitam. Uma obra inspirada nas ceramistas do Vale do Jequitinhonha que faz brotar a intimidade com a terra e o afeto para com nossas raízes.
Orion é um menino com dois pais: Pedro e Paulo. Ele é amado, tem orgulho de seu black power e enxerga nas mãos a possibilidade de contar todo o afeto que recebe. As mãos de seus pais que o acolhem, que o acariciam, que transmitem segurança. E é essa inspiração que vem das mãos que o menino resolve usar para fazer seu trabalho de artes na escola. Mas nem todo mundo respeita Orion e sua família. E quando o menino precisa de acolhida, é a professora de artes quem entra em ação para protegê-lo, com suas mãos-abrigo.
Quando o próprio criador decide descer à Terra para espiar suas criaturas de perto, dois meninos sabidos, Roti e Cati, vão desvendar sua identidade - e salvá-lo. O criador assume a forma de um tamanduá, um kuján, para fazer a visita. A aparição do bicho é festejada pela aldeia, que pretende transformá-lo em jantar… Mas os meninos sabidos não vão deixar que isso aconteça. Uma história contada por Ayrton Krenak em uníssono com Rita Carelli, que reverencia os saberes ancestrais, o sagrado próprio da natureza e as subjetividades que se tornam mais visíveis na infância.
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O primeiro amor ganha asas nesta narrativa poética e tão, tão terna. Tudo aconteceu na escola, no primeiro dia de aula: o menino se apaixonou. E o amor foi ganhando contornos. Primeiro, no desenho que ele fez dela assim que chegou em casa. Depois vieram as penas e os bicos. Acontece que a amada, Clara, gostava de pássaros… E que me melhor jeito de ser notado do que se transformar em um? O amor vai sendo contado nas sutilezas, com o encanto da descoberta recente e a pureza de demonstrar esse sentimento - sem medo de cair no ridículo e com uma vontade imensa de voar.
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Leitora desde os 4 anos e escritora desde os 7, Chimamanda Adichie lança seu primeiro livro infantil com uma história que celebra diversidade familiar e afeto
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