A fantástica biblioteca dos bebês
Muita gente não sabe nem por onde começar a escolher livros para bebês. E não há uma única resposta. Mas há caminhos quando o norte é o afeto e o apreço pela literatura
Esse sentimento de medo diante do que não se conhece tem se espraiado rapidamente para muitas áreas, incluindo a escola, as artes, a literatura infantil.
São muitos os relatos -- e as notícias -- de obras infantis sendo "proibidas" em escolas por desagradarem a um grupo de pais.
Há diversos vídeos circulando nas redes sociais com leitores atacando autores e livros por supostamente serem "perigosos".
O Blog da Brinque conversou com a educadora e consultora literária Celinha do Nascimento sobre esse delicado tema. Leia abaixo os principais trechos dessa conversa.
Manu e Mila, de André Neves (texto e ilustração): diferentes entre si, aprenderam um com o outro
O que está assustando ultimamente é a fúria com a qual a censura vem acontecendo. Não se trata de não gostar do diferente, mas de expor, caluniar, ofender, tratar aos gritos com aquilo de que não gosto. Em 2005, tivemos uma questão na escola onde eu trabalhava. O grupo de professores se dividiu sobre um livro: metade gostou e a outra metade não gostou da obra, inclusive não a indicaria para os alunos. Não vivíamos nenhum momento de censura e também não o censuramos, apenas tínhamos olhares muito distintos sobre a obra. Fizemos dois debates quentíssimos com todo o grupo de professores. Foi incrível. Esse movimento é maravilhoso. Discutimos muito, alguns mudaram de lado, outros se fincaram ainda no seu lado. Mas é assim que caminhamos. É assim que somos cada vez mais humanos: ou seja, entendemos a humanidade cada vez melhor. Obras de arte são abertas, são passíveis de leituras distintas, são portas abertas para as mais variadas interpretações. O medo do diferente já ceifou milhões de vida, não pode ceifar mais. Quais são os perigos de a arte- de literatura à cinema, passando por desenhos, HQs, músicas ser impedida de circular livremente e-ou ser tomada ao pé da letra, como se não fosse, muitas vezes, uma metáfora? O perigo é que se diminui o olhar e a compreensão que se tem de quem pensa diferente de você. Então não aprendemos a conviver, mas a viver isoladamente apenas com nossas impressões, nossas ideias, nossa visões de mundo. Que tamanho terá nosso olhar nesse modo de viver? Que tamanho terá nossa sensibilidade?
Pio, o passarinho: só existe o diálogo nessa história em que o pássaro aprende a falar todas as línguas
Acreditar que a influência se dá num nível perigoso e total é pensar que leitores e demais expectadores de arte em geral não possuem nenhuma capacidade de discernir, de refletir. [E é o contrário] Justamente a diversidade de temas é que torna possível se fazer escolhas. Reafirmo e acredito fortemente: quanto mais se conhece arte, menos se tem medo dela. Estamos o tempo todo falando de um mundo que se torna cada vez menor, mais raso, com menos possibilidades. Esse é o grande perigo. Se as crianças crescem com a firme ideia de que só existe um jeito de viver e de pensar, isso reduz drasticamente sua empatia e até mesmo sua intelectualidade. O “outro” não pode ser um perigo para mim, mas uma possibilidade. Qual é a diferença entre espaço público e privado na educação das crianças? Os pais podem escolher o que lêem para os filhos em casa mas podem – devem escolher o que a escola ou um projeto literário apresenta? Pergunta difícil. Público e privado estão cada mais vez emaranhados, confusos, causando uma confusão um tanto inédita. Pais precisam se aproximar da vida escolar dos filhos. Essa é uma luta, inclusive das escolas. Mas esta participação precisa ser qualificada. O professor, a equipe pedagógica sabem o que estão propondo. Os pais podem não gostar, relativizar, questionar, mas é a equipe pedagógica que está no comando da escola.
Pequenas histórias para grandes curiosos, de Marie-Louise Gay (texto e ilustrações): o mundo é diverso
Estão sendo muito bem-vindas as notas de rodapé nas edições atuais, mostrando que as formas de se referenciar com a comunidade negra mudou muito da época Lobatiana até os dias de hoje. Falar “negra beiçuda” ou “trepar como um macaco” não são mais permitidos. Que bom!
Nhac!, de Carolina Rabei: juntos é melhor, mesmo se diferentes; a vida é diversa e coletiva
Isso não quer dizer que não surjam conflitos. Se a obra escolhida traz algum tema mais difícil, alguma maneira de lidar com a realidade ou tema mais espinhoso, os conflitos podem surgir. Uma dica boa é apresentar o currículo e as obras escolhidas para os pais nas reuniões de pais. Antecipar é sempre melhor. Novamente digo que ainda assim podem surgir conflitos.
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              Com a obra Bento vento tempo, escrita por Stênio Gardel, o autor e ilustrador mineiro se confirma como um dos grandes nomes da literatura infantil brasileira