A fantástica biblioteca dos bebês
Muita gente não sabe nem por onde começar a escolher livros para bebês. E não há uma única resposta. Mas há caminhos quando o norte é o afeto e o apreço pela literatura
Luciana conversou com o Blog da Brinque sobre referência, infância, Lobato, História e sobre as incríveis aventuras da família Manso. Confira a seguir:
Ludi tem muitas referências, entre elas Monteiro Lobato, Dorival Caymmi, a MPB... Você já contou que foi sua mãe quem apresentou Lobato para você. Você se apaixonou de primeira? Como essas referências todas povoam sua infância?
Tenho uma lembrança muito grande da minha mãe contando as histórias do Sítio do Pica-Pau Amarelo para mim e para os meus irmãos. Meu avô tinha um terreno numa ilha, a ilha de Itacuruçá, aqui pertinho do Rio, e não tinha eletricidade lá. Então, era tudo na base dos lampiões e lanternas.
À noite, depois de muita praia, pescaria, mil passeios na mata e tal, a gente ouvia as aventuras do sítio. Eu lembro de ter ficado encantada com Viagem ao céu.. Fiquei muito mobilizado com aquele livro, queria ir para a Lua, viajar na calda do cometa... Lembro da emoção dessa leitura, como ela me transformou, como ela me fez viajar com a turma do sítio.
Em relação à música, os meus pais sempre gostaram muito de música, então a gente ouvia muito João Gilberto, Caymmi... Meus irmãos são músicos, eu tocava flauta transversa, gostava muito de choro. A MPF foi muito escutada lá em casa, a gente ouvia muito Chico, Caetano... Na minha adolescência, ainda era ditadura militar, então, Chico e Caetano povoaram a nossa geração. A minha geração sempre ficava esperando o novo disco do Chico, o novo disco do Caetano, eles eram a nossa resistência. A MPB, a cultura brasileira eram maneiras de resistência, de lutar contra a ditadura.
 
Ludi é irreverente, bem-humorada, não abre mão de uma boa aventura, questionadora.. Ela tem muito de Emilia e da própria Narizinho. Como foi que Ludi surgiu para você?
Mais tarde, fui fazer Letras, Literatura Brasileira, na PUC do Rio. E me lembro de ter feito um curso sobre Monteiro Lobato. Na adolescência, escrevia poesia, queria ser poeta. Gostava muito do Drummond, do Bandeira, do Mario de Andrade, mas não pensava em Literatura Infantil.
Pensava em Literatura Infantil na verdade porque minha mãe é fundadora da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) e ela, durante a minha adolescência, começou a fazer uma tese de mestrado sobre a Lygia Bojunga. Então, eu li a Lygia Bojunga já adolescente, porque ela gostava muito e botava a gente para ler, mesmo a gente mais velhos assim, e a gente adorava, fiquei encantada com a Lygia, mas eu já era adolescente.
Mas na faculdade, eu fui estudar Monteiro Lobato com a professora Eliana Yunes e o Luis Rao Machado, a gente fez um curso, e eu fiquei muito muito impactada com um livro que eu não tinha lido na infância, que é A chave do tamanho.  Nesse livro, a Emilia acaba com a Segunda Guerra Mundial, diminui a humanidade inteira de tamanho, todos ficam muito pequenos, só que as coisas e animais do mesmo tamanho. Ela faz uma grande reviravolta na humanidade.
Ela acaba com a guerra, mas, ao mesmo tempo, os homens têm de se recriar, ver o que vai fazer para sua sobrevivência; a guerra acaba, mas tema luta pela sobrevivência.
Esse livro me deixou muito impactada. "Gente, mas o Monteiro Lobato é muito louco, ele faz umas coisas extremamente filosóficas". Esse livro é filosófico, não é só sobre o final da guerra, é sobre o homem, o que o homem faz com o planeta, com a Terra, sempre querendo a guerra, sempre querendo o poder...
O livro discute isso. Super atual.
E a Ludi acho que nasceu muito dessa leitura, ela é muito realmente parecida com a Emilia e com a própria Narizinho e eu acho que ela nasceu muito da minha infância, não que eu fosse a Ludi... Talvez a minha irmã mais velha, a Clara, era muito criativa, muito travessa, então talvez ela [a Ludi] tenha mais a ver com a minha irmã.
Acho que ela nasceu aí, nesse universo do Lobato e a família Manso tem muito da minha família. Meu pai é jornalista e gosta muito de História, acho que tem seu Marcos, com a dona Sandra, com essa faceta deles de gostarem muito de História, de fazer passeios com a família... Lembro muito da gente fazendo mil passeios com minha mãe, com meu pai. Acho que [a Ludi] resgata [isso] um pouco. Morei no Leme, então tinha essa coisa da praia: a minha família tinha essa coisa de ir para a praia, andando... A Ludi surgiu dessa memória de infância e dessa leitura de Lobato, de Lygia Bojunga, leitura da Alice... Acho que ela tem muito a ver com todas essas leituras.
 
Outra característica marcante da família Manso é viajar no tempo e juntar em suas aventuras questões históricas, políticas... Você faz romance histórico para jovens leitores. De onde vem o seu interesse por esses fatos e como você foi escolhendo o que trazer para as aventuras de Ludi e companhia?
Meu pai realmente gosta [de História] e incutiu isso nos filhos. Eu gostava muito dessa matéria na escol e fiquei entre Literatura e História [na escolha de carreiras], mas fui para Literatura. Consegui juntar as duas com a Ludi! Ludi vai à praia e  Ludi na TV [os dois primeiros livros cuja menina é a personagem principal] não têm essa questão histórica, mas têm a questão do Rio, o tema da cidade do Rio está presente logo no começo.
O primeiro [livro da série] já mergulhando na História, o Ludi na revolta da vacina, acho que foi [originado do] meu interesse pela História do Rio antigo. Porque o Rio é muito conhecido pelas praias, pela natureza, pelas montanhas... O Rio tem uma história, tem um centro história. Na época em que eu comecei com a Ludi, nos anos 90, [o centro] não era tão falado, tão divulgado.
Me lembro de, na adolescência, ganhar um livro do Marc Ferrer, o fotógrafo, e ficar muito impressionada com o centro, nessa questão de derrubarem os prédios da época do [ex-prefeito] Pereira Passos... Fiquei muito impressionada [com] como o Rio era tão europeu e se modernizou: num século, derrubaram vários prédios... Eu fiquei curiosa, querendo entender como é que foi isso, como é que o centro mudou tanto, os outros bairros também, Copacabana... Fiquei curiosa de saber a História do Rio.
 
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