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Ilustração de Ana Matsusaki para Poliana: contraste entre cinza e colorido para marcar a diferença entre a menina e os moradores da cidadezinha onde vai morar
Ana tem 30 anos, nasceu em São Paulo e desenha desde pequena. Conta que brincava de fazer revistas com a melhor amiga. Nesses momentos, era Ana quem desenha o layout do projeto, como hoje, quando ela faz trabalhos de design editorial. Desde 2015, dedica-se exclusivamente à ilustração e ao design. Já teve suas obras selecionadas para importantes mostras, como o 10º Catálogo Iberoamérica Ilustra assim como para a exposição que ocorre durante a Feria Internacional de Libro em Guadalajara, no México. Conversamos com ela sobre o processo criativo para Poliana, inspirações, os clássicos nos dias de hoje e literatura. Abaixo, os principais trechos da conversa.Por que ler os clássicos nos dias de hoje?
Os clássicos geralmente são textos que se mantiveram firmes e com um certo interesse do público com o passar do tempo, ou seja: trazem mensagens que fazem sentido em contextos ou épocas diversos. É como se uma longa conversa se estendesse ao longo de várias gerações. Ler um clássico é uma oportunidade de adentrar nesses universos coletivos e descobrir como essa história diz respeito ao momento em que você vive.
Quais são, para você, os maiores desafios de se pensar um projeto gráfico e as ilustrações para um livro clássico, com mais de cem anos?
Criar um projeto que tenha apelo diante dos jovens leitores e ao mesmo tempo respeitar a essência do texto. Tentar quebrar através do projeto gráfico a ideia de que um clássico é um livro chato e desinteressante para um jovem leitor.
Que interlocuções você estabeleceu entre o texto do livro, conteúdo, e a linguagem gráfica? O que inspirou você na obra para criar, pensando principalmente nessa "tensão", por assim dizer, entre uma obra tão antiga e a linguagem gráfica, tão moderna?
A leveza de Poliana e a forma como ela encara a vida são muito marcantes ao longo de toda a obra. Quando se lê o texto é quase como se você pudesse sentir e visualizar a mudança gradual que vai tomando conta de Beldingsville, onde se passa a história. O projeto gráfico foi pensado para criar essa sensação, um jogo entre os cinzas e a cor, os cidadãos sisudos e pesados e Poliana, que parece flutuar por entre as personagens. As vinhetas que abrem cada capítulo são pequenas e foram desenhadas estilo aquarela, para trazer essa postura delicada que a menina tem perante a vida.
Como se cria um projeto gráfico e como foi o seu percurso nesse livro?
O primeiro passo é ler todo o texto, avaliar quais são as mensagens principais e tentar entender a visão da autora. Claro que isso não deixa de ser um processo que envolve certa subjetividade. Como essa obra já é muito antiga e com muitas edições, há a necessidade de se pesquisar tudo o que já foi publicado no mercado e estabelecer um projeto que seja atrativo para os jovens leitores e que também se diferencie das demais edições.
Você já tinha lido Poliana antes? Como foi seu contato com o livro?
Nunca havia lido, mas já havia escutado algumas vezes a expressão: “Fulana é muito Poliana” (que significa que a pessoa é otimista / ingênua demais). Foi curioso ler o livro e descobrir a fonte dessa expressão.
O que inspira você?
Como designer, ilustradora e artista gráfica eu estou absorvendo o tempo todo tudo o que está ao meu redor, direta ou indiretamente. As viagens, por exemplo, me inspiram a não fechar o mundo em apenas um ângulo. As plantas me fazem refletir sobre o ciclo da natureza e a forma como temos explorado o nosso planeta até o limite. No momento estou muito interessada em Botânica, hortas urbanas, alimentação orgânica, marcenaria e danças na rua. Tudo isso acaba se refletindo no meu trabalho.
Conta um pouco, por favor, do seu processo criativo na ilustração?
Tudo começa com a leitura do texto. A partir daí vou estendendo e aprofundando a pesquisa, por exemplo: que objetos se usavam na época em que se passa a história? Como eram os trens? Depois dessa pesquisa começo a fazer os primeiros rascunhos das imagens, nesse estágio eles são bem toscos e só os utilizo como guias para pensar na composição ou na distribuição de cores. Seleciono os melhores rascunhos para desenvolver e submeter à aprovação da editora. Após aprovados eu começo com a finalização. No caso desse livro usei desenho digital, nanquim e alguns elementos desenhados à mão e escaneados.
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>>Sobre esse tema, já conversamos com Marisa Lajolo, especialista em Literatura e em Monteiro Lobato, que traduziu e adaptou essa nova edição de Poliana para a Escarlate. >>E você? Entre aí nos comentários e nos conte: você já leu Poliana? Ou assistiu a alguns dos filmes adaptados dessa história?Paty Wolff, Marcelo D'Salete e Josias Marinho conversaram sobre as perspectivas, os territórios, os sotaques que marcam a presença negra na literatura
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