Dia das bruxas? Só se for com a Mortina
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Brinque-Book: De que forma sua viagem ao Alter do Chão o inspirou a criar essa história? O que você viu ali e resolver trazer para o livro?
Fernando Vilela: Estive lá no primeiro semestre de 2006, época da cheia, depois de ter chovido por muito tempo. Conhecemos o Rui, um barqueiro que nos levou para conhecer as ilhas. Era impressionante. Vimos o Canal do Jari e alguns igapós, que são florestas inundadas até chegar nessa vila fantasma, de onde as pessoas haviam se mudado.
Me inspirei muito na paisagem, na natureza e nos bichos que vi na viagem. Todas as imagens que aparecem no livro foram vivenciadas por mim.
Retratar as famílias ribeirinhas é também mostrar às crianças que vivem nas grandes cidades de outros Estados um outro Brasil, algo que elas talvez desconheçam. Você imagina que esse livro também tem esse papel?
De fato nós conhecemos muito pouco do nosso País. E sobre essas vilas mais isoladas onde só chegamos por avião, não há muita informação disponível mesmo.
Esse livro ilustrado eu imaginei com a função de ser uma releitura ou experiência poética, que conta como vive uma família, o dia a dia do lugar, as crianças indo para a escola... Essa história acaba trazendo essa informação que a criança da cidade muitas vezes não tem.
Além disso, acho importante poetizar essa natureza amazônica e então depois conhecê-la. Eu mesmo, aos 22 anos, quando resolvi conhece o Acre, já tinha visto tanta imagem sobre o lugar que aquilo acabou me inspirando a ter vontade de conhecê-lo.
Como foi feita a escolha da técnica e cores para ilustrar a história?
Na linguagem que escolho trabalhar, misturo muito a gravura com desenho e pintura. Depois, no computador, eu trabalho as cores, fazendo com que eu tenha controle total do resultado delas no impresso. O fato de eu ser artista gráfico e gravurista faz com que eu possa juntar isso. Eu penso o livro como gravura e gosto de linguagens que me dão liberdade na hora de criar.
A escolha também parte muito da observação da realidade.
Alguns leitores, ao conhecer o livro, pensaram que se tratava de uma história indígena. Você acredita que há similaridades entre a vida na zona ribeirinha e nas aldeias indígenas?
Sim, há similaridade, mas os ribeirinhos não vivem em aldeias nem se consideram indígenas.
O que acontece é que podem estar nessas regiões muitos filhos de índios. As comunidades ribeirinhas ou muitas pessoas que foram morar na Amazônia aprenderam a viver com índios.
Hábitos alimentares, técnica de pesca e até mesmo o vocabulário é parecido em alguns casos. Mas uma comunidade ribeirinha não é uma comunidade indígena.
No livro nós temos em primeiro plano esse trajeto da casa para a escola, passando pelo período da chuva, a vida no rio, o cotidiano. O que mais você pode observar em relação à vida das crianças que ali vivem?
É um dia a dia de muita brincadeira. A escola, nesse caso, às vezes é um esforço, já que pode demorar até uma hora de barco no deslocamento.
Convivi com crianças no Arquipélago de Bailique, na foz do Amazonas, e vi uma relação com a natureza muito intensa. São crianças como em qualquer lugar, mas com uma intimidade muito grande com o mato, com os bichos e com o que se come.
A natureza é abundante e a floresta é perigosa. Mas os meninos, por exemplo, são pequenos adultos a partir dos oito anos.
É interessante notar que ao mesmo tempo em que são muito soltas e livres, as crianças ali são muito experientes.
Você conheceu alguma escola durante essa viagem? Se sim, como foi essa experiência?
Conheci uma escola em Alter do Chão, mas estava vazia. Mas o Rui me contou como ela funcionava. Agora no Bailique eu conheci uma escola que se chama Escola-Bosque, que integra todo o conhecimento da floresta com o currículo do Ministério da Educação.
Foi incrível ver como existem propostas educativas que valorizam e respeitam as histórias e as tradições.
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