
Literatura Brasileira Viva: O melhor da ficção nacional, conto a conto
A terceira edição da campanha de valorização da literatura nacional promovida pela Companhia das Letras em conteúdos, promoções e eventos.
Por João Silvério Trevisan
Quando pequeno, eu usava minha imaginação para fugir do ambiente opressivo que meu pai alcoólatra impunha em casa. Além dos filmes vistos no cinema local, eu também me refugiava nas músicas. De todos os tipos. Aí era como se elas chegassem direto às veias, para temperar o caldeirão das minhas emoções. As músicas ouvidas não me colocavam em contato apenas com outros mundos. Elas me transformavam em um Outro, ao mesmo tempo vago e abrangente. Eu compreendia as minhas dores e alegrias através dos sentimentos que recebia nas músicas. Com elas, meu Pequeno Mundo ficava povoado de ecos do Grande Mundo. E eu extravasava a mim mesmo. De lá para o resto da minha vida, as músicas se tornaram essenciais. Aqui vão algumas citadas em Pai, pai.
Mesclando passado e presente, análises pessoais e referências culturais, Pai, pai compõe um painel inesquecível da relação tumultuosa entre pai e filho enquanto constrói, com maestria, o retrato de toda uma geração.
João nasceu em Ribeirão Bonito, interior de São Paulo, filho mais velho de uma família de classe média baixa. Desde o início, acompanha a forma rude como o pai José trata sua mãe, de origem mais humilde. É vítima, ainda criança, da violência de José, que não aceita sua natureza de “menino maricas”. Antes de completar 10 anos, João entra num seminário, para escapar do ambiente de casa. “Eu iniciava meu processo de ser outro, um homem, sem deixar de ser o mesmo filho de José, o cachaceiro.” Depois de abandonar o seminário, ele busca sua liberdade, e deixa o Brasil da ditadura para conhecer o mundo. Atravessa graves momentos políticos na América Latina e vivencia a contracultura nos Estados Unidos. Mergulha na escrita e nas artes. Mas a sombra do pai continuará sempre consigo.
Pai, pai, lançado pela Alfaguara, já está nas livrarias.
João Silvério Trevisan tem treze livros publicados, entre ensaios, romances e contos. É outor do romance Ana em Veneza e do ensaio Devassos no Paraíso, entre outros. Realizou também trabalhos como roteirista e diretor de cinema, dramaturgo, tradutor e jornalista. Dirigiu o longa-metragem cult Orgia ou O homem que deu cria (1970), proibido pela ditadura durante mais de dez anos, e o curta Contestação (1969), realizado clandestinamente. Recebeu três vezes o prêmio Jabuti e o prêmio da da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), o último deles pelo romance Rei do cheiro (Record, 2009). Pai, pai, seu romance mais recente, acaba de sair pela Alfaguara.
A terceira edição da campanha de valorização da literatura nacional promovida pela Companhia das Letras em conteúdos, promoções e eventos.
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Confira a programação oficial e paralela dos autores que marcam presença nesta edição