
Literatura Brasileira Viva: O melhor da ficção nacional, conto a conto
A terceira edição da campanha de valorização da literatura nacional promovida pela Companhia das Letras em conteúdos, promoções e eventos.
Por Eric Novello
Descrever meu próprio livro é algo que sempre dá um nó na minha cabeça. Mas se me pedissem hoje para definir o Ninguém nasce herói em uma única frase, eu diria que ele conta uma história sobre a importância dos laços de amizade e de amor em tempos de ódio. Simples assim.
A ideia nasceu quando o país vivia o auge do seu clima raivoso.
Não que a situação esteja boa agora, eu sei, mas aqueles meses em específico foram assustadores. As pessoas haviam decidido que era patriótico agredir umas às outras por causa de posicionamento político, bater uns nos outros por causa de cor de camisa. E aqui em São Paulo, onde moro, para piorar, estávamos enfrentando a maior crise hídrica da história da cidade. O que não ajudou em nada a acalmar os ânimos.
O outro havia se transformado em inimigo.
Tem uma frase muito famosa da cantora Nina Simone que é a seguinte: "Como você pode ser um artista e não refletir o seu tempo?".
Mais do que refletir, eu precisava lidar com o incômodo e com a angústia que aquela situação de ódio exacerbado estava causando dentro de mim. E o meu jeito de lidar com fantasmas sempre foi escrever.
Quando comecei a rascunhar o Ninguém nasce herói, as perguntas começaram a aparecer: se eu, que já sou formado e tenho um emprego, estou me sentindo desnorteado, como deve estar se sentindo a galerinha que está para entrar na faculdade ou acabou de se formar? Como deve ser para quem está na fase em que a gente mais pensa sobre o futuro ver as certezas ruindo ao seu redor? Outra pergunta infelizmente inevitável foi: E se um político espertão aproveitasse esse clima de incertezas para assumir o controle do país?
Foi esse o pontapé inicial.
Para me ajudar a encontrar as respostas, nasceram Chuvisco, Cael, Amanda, Gabi, Pedro e Junior – um grupo de amigos que precisa entender o seu lugar em um Brasil que virou uma ditadura fundamentalista. Um grupo de amigos diverso, composto por negros e brancos, heterossexuais e homossexuais, cis e trans, ateus e religiosos etc. Num momento em que pensar diferente parecia um grande crime, esses seis amigos me ajudaram a lembrar que é possível sim respeitar nossas diferenças e construir laços de amizade que se engrandeçam a partir disso.
Daí aquela frase no começo.
Depois de um ano e meio de trabalho, o Ninguém nasce herói começa enfim a chegar às livrarias e sites de venda. A minha parte da história foi contada. Agora é a vez do leitor escolher o seu lugar nessa montanha russa-emocional – pelo menos foi assim que me senti ao escrever o livro –, uma com viradas de ponta-cabeça, descidas vertiginosas e, claro, momentos de tranquilidade. Afinal, ser feliz também é uma forma de protesto.
NINGUÉM NASCE HERÓI
Sinopse: Num futuro em que o Brasil é liderado por um fundamentalista religioso, o Escolhido, o simples ato de distribuir livros na rua é visto como rebeldia. Esse foi o jeito que Chuvisco encontrou para resistir e tentar mudar a sua realidade, um pouquinho que seja: ele e os amigos entregam exemplares proibidos pelo governo a quem passa pela praça Roosevelt, no centro de São Paulo, sempre atentos para o caso de algum policial aparecer. Outro perigo que precisam enfrentar enquanto tentam viver sua juventude são as milícias urbanas, como a Guarda Branca: seus integrantes perseguem diversas minorias, incentivados pelo governo. É esse grupo que Chuvisco encontra espancando um garoto nos arredores da rua Augusta. A situação obriga o jovem a agir como um verdadeiro super-herói para tentar ajudá-lo – e esse é só o começo. Aos poucos, Chuvisco percebe que terá de fazer mais do que apenas distribuir livros se quiser mudar seu futuro e o do país.
A sessão de autógrafos de Ninguém nasce herói acontece no dia 6 de agosto, às 15h, na Saraiva do Pátio Paulista, em São Paulo.
Eric Novello é escritor, tradutor e roteirista com formação no Instituto Brasileiro de Audiovisual. Nasceu no Rio de Janeiro em 1978 e mora em São Paulo desde 2007. É autor de Exorcismos, amores e uma dose de blues(Gutenberg, 2014), A sombra no Sol (Draco, 2012), Neon azul (Draco, 2010) e Histórias da noite carioca (Lamparina, 2004). Em julho, lança pela Seguinte Ninguém nasce herói.
A terceira edição da campanha de valorização da literatura nacional promovida pela Companhia das Letras em conteúdos, promoções e eventos.
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Confira a programação oficial e paralela dos autores que marcam presença nesta edição