
Literatura Brasileira Viva: O melhor da ficção nacional, conto a conto
A terceira edição da campanha de valorização da literatura nacional promovida pela Companhia das Letras em conteúdos, promoções e eventos.
Por Carol Bensimon
Foto: Marco Hamersma
Gosto de comprar revistas quando estou no aeroporto. A última que comprei foi a edição de junho da Galileu, editada pela amiga Cristine Kist, que aparentemente está fazendo uma pequena revolução lá dentro. O editorial da Cris, aliás, menciona que a revista vai mexer em alguns lugares-comuns do jornalismo, como um que determina que “enquanto os entrevistados homens são tratados pelo sobrenome, as mulheres são citadas sempre pelo primeiro nome”. Acho bem estranho mesmo me chamarem de Carol em resenhas, não de Bensimon. Fica a dica. Obrigada, Kist.
Mas o que eu queria dizer é que, na página 18, alguns dados sobre livros no Brasil, comparados a dados de outros países, me chamaram atenção enquanto eu estava indo rumo a Cachoeiro do Itapemirim para um evento literário, com o ilustre José Eduardo Agualusa no banco de trás. Mostrei os infográficos para ele, inclusive, despertando-o de um devaneio e fazendo-o tirar seus fones de ouvido (o que Agualusa estava escutando nas estradas do Espírito Santo?). Um deles dizia respeito ao preço médio do livro no Brasil, França, Itália, Reino Unido, Estados Unidos e Rússia. Os dados mostram que a ideia muito difundida de que, no Brasil, o livro é caro, está parcialmente (chegaremos lá) equivocada: Na França, um livro custa em média R$ 36. Itália: R$ 24. Reino Unido: R$ 34. EUA: R$ 32. Rússia: R$ 17. Brasil: R$ 35.
Esse dado, se isolado, diz mesmo muito pouco. Na França, um país com um índice de leitura elevado, o livro custa em média o que custa no Brasil, onde qualquer dado que envolva venda de livros e índice de leitura por habitante precisa ser inflado com livros religiosos e livros de colorir para que a gente fique menos deprimido. A questão está quando se combina esse dado (preço médio) com outros dados: valor de salário mínimo e quantidade de livros que um salário consegue comprar. Um salário mínimo compra 238 livros no Reino Unido. EUA: 176 livros. Itália: 167 livros. França: 163 livros. Brasil: 25 livros. Rússia: 18 livros.
A questão, portanto, é que o livro é sim caro no Brasil, se considerarmos o poder de compra da maioria da população. Nesse sentido, seria importante que as cidades brasileiras pudessem contar com uma boa rede de bibliotecas públicas, acessíveis e atualizadas, o que não é exatamente o que se vê por aí, salvo honrosas exceções (alguns meses atrás, em outra feira literária, um ilustrador convidado impressionava-se com o fato de que a biblioteca da cidade tinha sido montada apenas com doações. Seu acervo era, em resumo, o refugo da casa dos outros).
A dificuldade em combater o analfabetismo, segundo a Galileu, explica também o “atraso do desenvolvimento da literatura brasileira”: em 1876, 78,11% da população do Brasil era analfabeta, um número brutal se comparado aos 14% de norte-americanos que não sabiam ler e escrever em 1870.
Chocante, triste, desalentador. Mas imperdoável é a elite que não lê. Nesse caso, o acesso ao livro ou a taxa de analfabetismo não explicam tanto quanto a quase completa falta de valor simbólico da literatura no Brasil. Para tornar o cenário mais dantesco, as últimas semanas mostram como uma parcela da população está pronta para demonizar o artista, rotulá-lo de vagabundo, aproveitador ou de, no mínimo, inútil.
No voo entre Vitória e Rio de Janeiro, sentei ao lado de uma mulher mais ou menos da minha idade e muito disposta a conversar. Enfiando de tempos em tempos a mão de unhas vermelhas perfeitas em um saco de pipoca doce, ela me contou que atualmente mora em Santa Catarina, entre Jurerê Internacional e a serra, onde administra um frigorífico. Perguntou-se em seguida com o que eu trabalhava, o que eu tinha ido fazer no Espírito Santo, etc. Pareceu empolgada com o fato de que eu era escritora para, então, logo dizer: “daqui a pouco tu tá na tevê escrevendo novelas”. Como se fosse algo que, evidentemente, eu deveria almejar.
Carol Bensimon nasceu em Porto Alegre, em 1982. Publicou Pó de parede em 2008 e, no ano seguinte, a Companhia das Letras lançou seu primeiro romance, Sinuca embaixo d’água (finalista dos prêmios Jabuti e São Paulo de Literatura). Seu último livro, Todos nós adorávamos caubóis, foi lançado em outubro de 2013. Ela contribui para o blog com uma coluna mensal.
A terceira edição da campanha de valorização da literatura nacional promovida pela Companhia das Letras em conteúdos, promoções e eventos.
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