Dia das bruxas? Só se for com a Mortina
A menina-zumbi Mortina vive no Palacete Decrépito e é a protagonista da série que leva seu nome. Mas para entender os livros, é preciso ter certos atributos... Veja quais são
Nesta história, quem fica doente não é a vovozinha, mas a tia jovem e bonitona da chapeuzinho, que vive com o pai. A tia liga para a menina pedindo ajuda, e a pequena, extrovertida e animada, reúne remédios para levar à parente.
Note as cores escolhidas pelo artista. São cores quentes e alegres, que remetem ao clima de uma savana onde viveria um leão e também nos remete à arte e à cultura africanas. São também cores que ressaltam a personalidade desta Chapeuzinho, que é confiante, extrovertida e muito sabida, como ficará claro ao longo da história.
No caminho, Chapeuzinho vai brincando com o que seriam grandes perigos e desafios, como crocodilos (acima) e javalis (abaixo). Nada parece assustar a menina, e o desenho colorido, assim como a expressão dela e dos animais, reforça essa sensação de que a menina brinca e tira de letra os "perigos" da floresta.
É nesse momento que aparece um leão faminto, que planeja devorar a pequena humana. A forma como Smith conta esse trecho é particularmente engraçada, usando uma linguagem rápida e com timing preciso das tiragens cômicas.
Repare que, para contar o plano "muito, muito malvado" do leão, Smith lança mão de recursos gráficos com os quais os pequenos leitores certamente estão habituados e que destoam de uma fábula clássica. Novamente, é desse estranhamento que surge o riso e a irreverência.
Para surpresa do leitor -- e do leão --, o plano, bastante parecido com o plano do lobo mau na Chapeuzinho clássica, começa a dar errado no momento em que a menina chega à casa da tia. Note (abaixo) a expressão sabida dela e o olhar do leão, que parece iludido -- ele sim, inocente -- pela sua tentativa de enganar a protagonista.
E qual não foi a surpresa do leão quando a chapeuzinho muito esperta usou o feitiço contra o feiticeiro. Se o leão "era" a tia, que tal um penteado novo?
Aqui, mais uma vez, Smith reconta o clássico com tintas bem atuais, trocando uma chapeuzinho tímida, desprotegida e inocente por outra que dá conta de proteger a si mesma e à tia. E faz isso com inteligência, raciocínio rápido, bom humor, sagacidade.
Ao colocar a Chapeuzinho nesse lugar, Smith cria um modelo de menina forte, que vence as batalhas da vida com leveza e inteligência, defendendo sem medo aquilo em que acredita. Destaque para o momento em que ela dá uma bronca no leão por armar planos maliciosos, vendo as pessoas como inimigas, ao invés de dialogar e ter um pensamento mais coletivo.
Repare na quarta capa. Quartas capas interessantes são sempre bacanas, porque nos lembram de não perder nenhum detalhe dos livros ilustrados. Nesta obra, é ela que marca a história cronológica e afetivamente. No início, a quarta capa mostra a menina ao nascer do sol de um novo dia. No final do livro, a ilustra revela um sol se pondo, indicando que aquele dia está no fim, e dá pistas do destino de algumas outras personagens da narrativa.
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